Esta lenda é muito linda, foi retirada do prefácio do livro "Libertação", de André Luiz, com psicografia do Francisco Cândido Xavier - Edição FEB.
Podemos trabalhar: esperança, respeito ao próximo, atitude/vontade, mudança de hábitos e de pensamentos, para podermos sair de um mundo de provas e expiações e irmos para um mundo de regeneração, o emagrecer seria fazer uma reforma íntima; entre outros assuntos.
Ótima para infância e juventude.
E este é o peixinho que confeccionei para contar esta história. Enquanto estou narrando, as crianças vão passando o peixinho, para que todas possam pegá-lo.
Podemos trabalhar: esperança, respeito ao próximo, atitude/vontade, mudança de hábitos e de pensamentos, para podermos sair de um mundo de provas e expiações e irmos para um mundo de regeneração, o emagrecer seria fazer uma reforma íntima; entre outros assuntos.
Ótima para infância e juventude.
No centro de formoso jardim,
havia um grande lago, adornado de ladrilhos azul- turquesa.
Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita.
Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita.
Nesse
reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de peixes, a se refestelarem,
nédios e satisfeitos, em complicadas locas, frescas e sombrias. Elegeram um dos
concidadãos de barbatanas para os encargos de rei, e ali viviam, plenamente
despreocupados, entre a gula e a preguiça.
Junto
deles, porém, havia um peixinho vermelho, menosprezado de todos.
Não
conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos. Os
outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvárias e
ocupavam, displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso.
O
peixinho vermelho que nadasse e sofresse.
Por
isso mesmo era visto, em correria constante, perseguido pela canícula ou
atormentado de fome.
Não
encontrando pouso no vastíssimo domicílio, o pobrezinho não dispunha de tempo
para muito lazer e começou a estudar com bastante interesse.
Fez
o inventário de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas do poço, arrolou
todos os buracos nele existentes e sabia, com precisão, onde se reuniria maior
massa de lama por ocasião de aguaceiros.
Depois
de muito tempo, à custa de longas perquirições, encontrou a grade do escoadouro.
À frente da imprevista oportunidade de aventura benéfica, refletiu consigo:
À frente da imprevista oportunidade de aventura benéfica, refletiu consigo:
-
"Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros rumos?"
Optou
pela mudança.
Apesar
de macérrimo, pela abstenção completa de qualquer conforto, perdeu várias
escamas, com grande sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitíssima.
Pronunciando
votos renovadores, avançou, otimista, pelo rego d'água, encantado com as novas
paisagens, ricas de flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de
esperança...
Em
breve, alcançou grande rio e fez inúmeros conhecimentos.
Encontrou
peixes de muitas famílias diferentes, que com ele simpatizaram, instruindo-o
quanto aos percalços da marcha e descortinando-lhe mais fácil roteiro.
Embevecido,
contemplou nas margens homens e animais, embarcações e pontes, palácios e
veículos, cabanas e arvoredo.
Habituado
com o pouco, vivia com extrema simplicidade, jamais perdendo a leveza e a
agilidade naturais.
Conseguiu,
desse modo, atingir o oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo.
De
início, porém, fascinado pela paixão de observar, aproximou-se de uma baleia
para quem toda a água do lago em que vivera não seria mais que diminuta ração;
impressionado com o espetáculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado
com os elementos que lhe constituíam a primeira refeição diária.
Em
apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando proteção no bojo do
monstro e, não obstante as trevas em que pedia salvamento, sua prece foi
ouvida, porque o valente cetáceo começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às
correntes marinhas.
O
pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias simpáticas e aprendeu
a evitar os perigos e tentações.
Plenamente
transformado em suas concepções do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas
da vida. Encontrou plantas luminosas, animais estranhos, estrelas móveis e
flores diferentes no seio das águas. Sobretudo, descobriu a existência de
muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se
sentia maravilhosamente feliz.
Vivia,
agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral que elegera, com centenas de
amigos, para residência ditosa, quando, ao se referir ao seu começo laborioso,
veio a saber que somente no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida
garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de
outra altitude, continuariam a correr para o oceano.
O
peixinho pensou, pensou... e sentindo imensa compaixão daqueles com quem
convivera na infância, deliberou consagrar-se à obra do progresso e salvação
deles.
Não
seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade? não seria nobre ampará-los,
prestando-lhes a tempo valiosas informações?
Não
hesitou.
Fortalecido
pela generosidade de irmãos benfeitores que com ele viviam no Palácio de Coral,
empreendeu comprida viagem de volta.
Tornou
ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se encaminhou para os
canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar.
Esbelto
e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e serviço a que se devotava,
varou a grade e procurou, ansiosamente, os velhos companheiros. Estimulado pela
proeza de amor que efetuava, supôs que o seu regresso causasse surpresa e
entusiasmo gerais. Certo, a coletividade inteira lhe celebraria o feito, mas
depressa verificou que ninguém se mexia.
Todos
os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpados nos mesmos ninhos
lodacentos, protegidos por flores de lotus, de onde saíam apenas para disputar
larvas, moscas ou minhocas desprezíveis.
Gritou
que voltara a casa, mas não houve quem lhe prestasse atenção, porquanto
ninguém, ali, havia dado pela ausência dele.
Ridicularizado,
procurou, então, o rei de guelras enormes e comunicou-lhe a reveladora
aventura. O soberano, algo entorpecido pela mania de grandeza, reuniu o povo e
permitiu que o mensageiro se explicasse.
O
benfeitor desprezado, valendo-se do ensejo, esclareceu, com ênfase, que havia
outro mundo líquido, glorioso e sem fim. Aquele poço era uma insignificância
que podia desaparecer, de momento para outro. Além do escoadouro próximo
desdobravam-se outra vida e outra experiência. Lá fora, corriam regatos ornados
de flores, rios caudalosos repletos de seres diferentes e, por fim, o mar, onde
a vida aparece cada vez mais rica e mais surpreendente. Descreveu o serviço de
tainhas e salmões, de trutas e esqualos. Deu notícias do peixe-lua, do
peixe-coelho e do galo-do-mar. Contou que vira o céu repleto de astros sublimes
e que descobrira árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras,
monstros temíveis, jardins submersos, estrelas do oceanos e ofereceu-se para
conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranqüilos.
Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente
seu preço. Deveriam todos emagrecer, convenientemente, abstendo-se de devorar
tanta larva e tanto verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar
tanto quanto era necessário à venturosa jornada.
Antes
que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe a preleção.
Ninguém
acreditou nele.
Alguns
oradores tomaram a palavra e afirmaram, solenes, que o peixinho vermelho
delirava, que outra vida além do poço era francamente impossível, que aquelas
história de riachos, rios e oceanos era mera fantasia de cérebro demente e
alguns chegaram a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes, que trazia
os olhos voltados para eles unicamente.
O
soberano da comunidade, para melhor ironizar o peixinho, dirigiu-se em
companhia dele até a grade de escoamento e, tentando, de longe, a travessia,
exclamou, borbulhante:
- "Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas? Grande tolo!
- "Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas? Grande tolo!
vai-te daqui! não nos perturbes o
bem-estar... Nosso lago é o centro do Universo... Ninguém possui vida igual à
nossa!..."
Expulso
a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de retorno e instalou-se, em
definitivo, no Palácio de Coral, aguardando o tempo.
Depois
de alguns anos, apareceu pavorosa e devastadora seca.
As
águas desceram de nível. E o poço onde viviam os peixes pachorrentos e vaidosos
esvaziou-se, compelindo a comunidade inteira a perecer, atolada na lama...
E este é o peixinho que confeccionei para contar esta história. Enquanto estou narrando, as crianças vão passando o peixinho, para que todas possam pegá-lo.
De frente.
De lado.
De perfil.
Abraços de Luz e Paz
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